sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Influxo


Não espere pelo tempo (vento
indiscreto, repleto de poeira
e promessas). Se apresse.
A vida, que transborda
inquietude, represa as possibilidades.
Navegue.
Tome logo essa nau
de abstrações contemporâneas.
Tome coragem.
Tome ciência.
Tome um ônibus. Um trem.
Um chá alucinógeno – drink
de ilusões extemporâneas.
Tome a pena enfim
insidiando o voo. Voe.
Paire sobre a pauta
branca
e vomite sobre o verso
que recusou sua companhia.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Febris


Lavas palavras em delírio.
Lavras. E as mãos
contraídas como um soco
refreia o âmago do pre-
meditado verbo (in-
fluxo/refluxo).

(Pausa)

            o tempo/esse tempo
            onde nada está em jogo.

 Jogos
de letras es-
tampam agora o silêncio
do papel. Atônito risco/
rabisco/risco
arrisco o icnográfico
verso. E de-
limito o dito soar/
suar
a febre do ismo
do concreto.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O Discóbolo de Míron

                             
 (para o poeta  Benny Franklin)

Clássico entalhe da anônima
vitória.
E a icônica arte confinada
no plano altar, transita
(plena) em ângulos di-
versos, em versos angulares, re-
versos independentes. Além
da vista, sob pontos e pontes,
vomita
a estética postura do disco (movi-
mento que precede o lança-
mento). Onde a cinese ganha
distância, com a força
mítica
do músculo perfeito, me lanço
ícone
da (es)cultura anatômica.
Até o limite da parábola
construo um poema harmônico
: mente e corpo e palavras vivas.
Vívidas. Vivo agora, dentro e fora,
a descrever a pose e o
pós.

sidnei olivio

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Guardar a vida pelo avesso não é poupar ranhuras, rasuras de um mal descrito, nem se livrar do mal que (bem ou mal) se diz escrito. Guardar a vida pelo avesso é se apossar do verbo e impedir o tempo de passar (a qualquer preço).

segunda-feira, 19 de março de 2012

doutrina

1


tudo tende ao equilíbrio e à acomodação

independente do tempo.

(esse é um lema de fácil constatação.

difícil é conter a ansiedade e manter a paciência

: coisas que estão além da razão

e da ciência).



2




talvez nada do que não foi dito tenha sido falto

porque desnecessário dizer alguma coisa

num cenário repleto de imagens e mensagens

que se traduzem à moda da idade

à razão da própria e discutível verdade.